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Mundo Meu

Eu podia mudar o mundo com as minhas próprias mãos. No estado em que se encontra não seria uma má ideia. Uma mudança seria boa e eu tenho boas ideias para este mundo perdido. Há apenas um problema, uma questão, uma razão que me impede de realizar uma tal tarefa de proporções bíblicas. Não é a falta de vontade, nem de força, nem de força de vontade, pois tudo isso eu tenho de sobra. A única razão que me detém prende-se com o facto de, no final de tão grande e penoso labor, as minhas mãos ficarem ásperas, tão intocáveis como qualquer cacto num qualquer deserto árido e seco. Com que mãos iria eu tocar-te depois? Mãos secas e frias como uma rocha rude e dura? Como poderia eu sentir-te se todo o meu esforço de mudança das coisas complexas e complicadas me tirou todo o sentido de tacto para as coisas simples como o calor da tua pele macia.
O mundo está mal, é certo. É necessária uma mudança e é urgente que tal aconteça, mas o Meu Mundo também requer atenção. O Meu Mundo requer carinho e amor para que a felicidade se espelhe nele. O Meu Mundo és tu.
O mundo está mal e precisa de mundaça mas o mundo pode esperar. Quem queria um mundo melhor que me desculpe, eu não vou melhorá-lo já. Vou primeiro tratar de ti, do Meu Mundo. Se cada um tratar do Seu Mundo então decerto todos teremos um Mundo melhor.

Se de Rudyard Kipling (tradução de Félix Bermudes)

Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê...Se vais faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calunia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...
Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio, a construir de novo...
Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre...
Se, vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...
Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos...


Então, ó ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...
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