RSS FEED

Controlo

Afinal o que controlamos? O que significa controlar? Será domínio? Podemos dizer que controlamos o volume do nosso rádio, a temperatura do aquecedor, a intensidade da luz do candeeiro, e ,essas coisas, nada mais são do que luxos, comodismos da nossa vida moderna. E o que não controlamos? A chuva, o frio e o calor, o dia e a noite, o tempo. Quantas são afinal as coisas que controlamos e as que estão para além do nosso alcance? Aquecer a água no banho sabe bem, acalma o frio do nosso corpo, mas quantos de nós já parámos debaixo de uma chuva torrencial para disfrutar do toque das gotas a cairem na nossa face? Quantos de nós ja deixámos de fazer o que fazemos diariamentepara respirar o ar que a brisa do final de tarde traz? Ouvir a música da Natureza que nos chega sob a forma de folhas a chocalhar com o vento de Outono, de pássaros a cantar num frenesim interminável na Primavera, do calor do Sol no Verão que faz o suor correr pelo nosso rosto apenas para nos lembrar que estamos vivos, não para nos bronzear, e da chuva no Inverno, em vez de praguejarmos porque vai causar trânsito ou inundações, escutarmos quando cai,ouvirmos a água a correr e o barulho que faz ao deslizar pelo nosso telhado até chegar ao chão. Que prazer nos dará sentirmos coisas que não controlamos, como o Amor. Não controlamos o Amor que sentimos mas sabemos que apesar de todas as coisas boas que faz por nós também pode causar sofrimento. Não controlamos a chuva que cai, mas, se cair em demasia, pode inundar casas ou destruir plantações .

Fazemos tudo para controlar tudo e no final chegamos à conclusão que não nos cabe a nós decidir o que fica e o que vai, o que nasce e o que morre, e a morte, ou a vida, é o maior exemplo de que nada está nas nossas mãos.

Tudo o que pensamos e fazemos deve-se simplesmente ao facto de estarmos vivos e julgamos controlar a nossa vida. Mas será que controlamos? Qual é o som que o acorda? Queria acordar assim? E quando acorda vai fazer algo que lhe dá prazer? Vai trabalhar? E quando regressa do trabalho come e vai dormir? E quando acorda no dia seguinte qual é o som que o acorda? Queria acordar assim? E quando acorda vai fazer algo que lhe dá prazer? Passou algum tempo com alguém de quem goste? Ou essa pessoa passou por si sem saber o quanto gosta ela? Durante o seu dia o que é que “controlou afinal?

Temos regras para controlar tudo e no entanto essas regras tiram-nos os controlo das nossas vidas. Não fazemos o que gostamos, não estamos onde queremos, não dizemos o que pensamos porque as regras nos impedem de algum modo, em algum lugar. Como o Amor dá felicidade mas também pode trazer sofrimento, e a chuva cultiva plantações ou as destrói, também as regras têm benefícios além das desvantagens, prendem-nos de disfrutar da simplicidade das coisas boas mas também servem para conter as más,pois irremediavelmente o mundo é um conjunto de opostos, e nós, seres Humanos, vivendo nesse mundo, conseguimos paradoxalmente fazer o bem e o mal, embora não consigamos aceitar muito bem esse facto.

Tudo a nossa volta tem um oposto, algo que está no outro extremo e esse facto cria um equilíbrio entre todas as coisas. Luz/escuridão, alegria/tristeza, tudo tem um contrário. Se tomarmos banho de água fria e depois aquecermos gradualmente a temperatura o nosso corpo vai ficar mais relaxado. Se não corrermos para fugir da chuva e pararmos para a apreciar, talvez o facto de estarmos encharcados não pareça tão mau, foi uma opção, decidimos ficar molhados, em vez de ficarmos molhados ao tentar não o ficar.

Penso que se vivermos a vida sabendo que há tanto para sentir e aceitando que nem sempre nos sentiremos bem, retiramos dos nossos ombros o peso do “controlo” que não temos. Podemos remar uma vida toda contra a corrente e não sair do mesmo sítio, ou podemos deixarmo-nos ir e ver onde ela nos leva e talvez até novos caminhos se abram diante de nós para que possamos optar á medida que avançamos.

Se calhar tem a luz acesa enquanto lê isto mas, e se faltasse a electricidade e ficasse ás escuras? Ia resmungar ou acender uma vela e acabar de ler o texto? Pense nisso.

Sou

Sou sensatez,incoerência,
Sou opacidade transparente
Sou paciente,impaciência
Sou ingnorante e inteligente.
Sou timidez,sou atrevido,
Sou certo quando tudo está errado
Sou inexperiente e vivido
Sou inculto e viajado.
Sou simples e complexo
Sou começo finalizado
Sou argumento se nexo
Contra facto mais que provado.
Sou criança adolescente
Adulto de terceira idade
Sou decisão inconsequente
Sou sapiência e moralidade.
Sou confuso,sou paradoxo
Sou fruto que a terra deu
Sou ateu sou ortodoxo
Sou todos e sou só eu...

O que sou e o que somos
É resultado da experiência
Para onde vamos,para onde fomos
Daí resulta a nossa essência.
Se não sabes o que és
Olha para o que foste e verás
Que isso te torna no que és hoje
E no que um dia serás...

O que fui e o que sou
Isso estou seguro que sei
O que serei e para onde vou
Talvez nunca o saberei.

Tanto

Tantos pensamentos cruzados, perdidos
Em lugares desertos e desconhecidos
Tantas palavras que digo, e que não penso porquê
Tanta coisa que se viu, tanta coisa que se vê
Tanta vontade de provar que mereço respeito
Tanta vontade de tirar toda esta dor do peito
Tantas duvidas e incertezas que me consomem sem fim
Tantas vezes que me pergunto porque me acontece a mim
Tanto tempo que passa sem a gente ver
Tanta coisa que digo e que não quero dizer
Tanta coisa que ouço e que não quero ouvir
Tanta vontade de ficar, tanta vontade de partir
Tanta coisa que não interessa e que é noticia
Porque é que para viver é preciso tanta perícia?
Tanta vida vivida, e tanta vida por viver
Tanto esforço para matar e tão pouco para morrer
Sofro em vão, tantas vezes, sofro por espanto
Sofreria menos senão pensasse que iria sofrer tanto.

A Praia

A vida para mim é como uma Praia, trilhamos o nosso próprio caminho na areia, ou seguimos, tal como no mundo real, as pegadas daqueles que já caminham há mais tempo pelo areal.
A Praia não é só areia, existe também o Mar. O Mar e as Marés são o Destino, pois nunca sabes aquilo que ele vai trazer para a tua costa.
Na Praia, tal como na vida, existem alturas em que não consegues entender o que te rodeia, tudo parece enevoado e tempestuoso á tua volta e torna-se difícil perceber para onde vais. Por outro lado, há também alturas em que vês claramente o caminho a seguir, onde tudo ao teu redor é límpido e os teus amigos enchem a tua Praia, nesses momentos, sentes-te capaz de dar um mergulho no Mar do Destino e ires a procura do que ele tem para ti, de te aventurares em vez de ficares a espera daquilo que ele te possa trazer.
Na Praia, existe também uma altura em que, tal como nas vidas de todos nós, o ar está um pouco frio, a Luz mal se vê e o Sol é fraco, mas, á medida que ele vai subindo e ficando mais forte, o calor aperta e a Praia enche-se de movimento e alegria.Chega então o momento em que o Sol está no ponto mais alto e nem te consegues mexer no meio de tanta gente que te rodeia, depois vai caindo, caindo, até se começar a pôr, e, é nessa altura, nesses segundos especiais em que o Sol e o Mar se tocam, que tu estás a observar tudo, ao lado da pessoa que te acompanhou na tua caminhada pela areia, ambos admiram o espectáculo, olham para trás e veêm que o vosso caminho foi feito de altos e baixos, curvas sinuosas e linhas rectas perfeitas, passos mais firmes e outros mais tremidos, lugares em que caminhavam ora mais afastados, ora mais perto, mas sempre, sempre, ao lado um do outro. Assim é a vida, uma Praia por descobrir. Não estendas a tua toalha no seu areal imenso, antes caminha, pode ser que descubras algum tesouro escondido, enterrado na areia, deixado ali pelo Mar e pelas suas Marés, sempre surpreendentes.

Bruno santos

Como Água

Dizem que o nosso corpo contem em si oitenta por cento de água, e esse facto, por si só, devia ser suficiente para que nos sentissemos tão próximos dessa substância como se se fossemos nos próprios também parte dela. Se muito do que temos dentro de nós está, de alguma forma, relacionado com o liquido mais precioso que existe na Terra, a nossa essência enquanto seres Humanos talvez não esteja, afinal, assim tão distante da própria essência do H2O, ou está?...
Das fontes mais escondidas sai a água mais cristalina,brota por entre sulcos até ver a luz do dia e chega assim a um mundo novo por descobrir.Existe algo de muito Humano no caminho traçado pela água até ela nascer da sua fonte, e quando nasce, cristalina, é como se fosse uma criança acabada de de sair do ventre da mãe, tão ingénua qua a maldade que existe no mundo parece passar por ela como se fosse transparente, transparente...tal como a água.Após nascer para o mundo a água passa devagar pelos primeiros obstáculos,pequenas dificuldades que se assemelham a desafios gigantes tal não é ainda a falta de força para seguir em frente.São, no fundo, pequenas pedras que se amontoam perante o seu caminho,pedras essas que não podem ser ultrapassadas com força mas sim com gentileza,contornadas com pequenos passos,um após o outro,devagar,até se tornarem em passos mais rápidos,firmes e decididos,passos sem um rumo definido,sem direcção,apenas passos,como os de uma criança.Á medida que ganha força e cresce vai-se tornando mais veloz, mais robusta, e de repente outros caminhos aparecem paralelos ao seu,caminhos que se juntam formando um só em direcção ao mesmo horizonte, e ao juntarem-se esses caminhos, ao concretizarem essa união,surge uma nova força, e forma-se uma corrente, ligada por muitos cursos de água.Uma corrente que nos liga subentende-se por Amizade e os cursos de água que a formam só podem ser os nossos amigos.Sustentada pela força da Amizade esta criança avança em direcção a um tumultuoso Rio onde espreitam inumeros desafios e surpresas,correntes violentas que formam remoinhos de sentimentos incertos, pedras que surgem fortes como valores inabalaveis prontos a esmagarem qualquer ideal que a eles se oponha, zonas onde tudo é tão rápido que se torna dificil manter a cabeça á tona,respirar e recuperar o fôlego,para mergulhar depois bem fundo nas incertezas de uma adolescência cheia de mudanças e transformações,como um Rio enraivecido. Quando tudo parece calmo, depois da atribulada viagem através dos rápidos da mudança, já não é criança quem se olha no reflexo da superficie cristalina da água,a face mudou,a adolescência deixou marcas, mas não é também adolescente aquele que se olha a si mesmo,será que?...é pois, com certeza, um Homem que ali se apresenta, admirando-se e conhecendo-se a si próprio pela primeira vez, apercebendo-se de quem é, ao mesmo tempo que aproveita a paz de se sentir finalmente definido como alguém,mas essa paz...não dura muito.Homem ou Rio, Água ou ser Humano, ambos correm para algum lado,ambos tem uma direcção, um ciclo a percorrer, e a determinada altura surge um salto que tem que ser dado,uma queda de vai definir,á Luz do Sol ou da Sociedade,quantas são as cores que compôem o corpo de um ser Humano, ointenta por cento feito de Água.Nessa queda,muito se perde,muito se ganha,por ser abrupta, abre os olhos dos Homens em relação ao mundo em que vivem,na Água,torna-a suja e cheia de sedimentos,em ambos os casos se perdem a transparência e a cristalinidade, no fundo, perde-se a inocência. Quando termina, a queda deixa marcas que não se podem apagar, alterações inalteraveis, por vezes algumas cicatrizes, apesar disso é hora de seguir viagem pois ainda há muito por descobrir nesta nova etapa, e talvez, quem sabe, se consiga lavar alguma da sujidade que se carrega por se ter caído tão violentamente.No longo caminho que se apresenta, inumeras são as situações onde a água se mistura com tanta terra que acaba por se tornar lama e muitas vezes seca, antes que se cumpri-se um ultimo objectivo, e mais uma vez, não é assim tão diferente a perspectiva dos Homens,que tantas vezes se sujam e se cobrem de lama em nome de crenças vazias.As Águas e os Homens que cumprem a jornada,cientes do seu lugar neste mundo, encontram no final um Oceano delineado por um vasto Horizonte de sabedoria acumulada durante todo o percurso percorrido até então, e é nesse ponto,nesse momento em que o Horizonte cobre tudo á sua volta que o Homem e a Água se tornam um só, não existe mais nada ao seu redor e a sua comunhão permite-lhes contemplar uma luz que toca o Mar,parece afundar-se nele, parece submergir naquela imensidão azul e fria e no entanto emana calor, um calor tal que faz com que a Água se evapore,deixa o corpo do Homem e o ciclo chega ao fim...até ficar em estado liquido de novo,e recomeçar.

Bruno Miguel Santos
Return top